segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O AMOR SEMPRE VENCE


“Aos olhos da inveja todo o sucesso é crime”. Esta era a conclusão a que chegaram Lenice e Rodrigo quando finalmente puderam viver o grande amor que sentiam um pelo outro. Mas muito sofrimento, angústia e desilusão fizeram parte da vida do apaixonado casal até aquele momento.
Em uma pequena localidade do interior de Ibarama, viviam José  e Lenice com seus quatro filhos. A mulher de trinta anos, magra, rosto marcado pelas linhas do tempo, mas sempre sorridente e muito trabalhadeira, era responsável pelo sustento da casa. Para isso, trabalhava diariamente em uma escola, durante oito horas. Após chegar em casa, trocava de roupa e acompanhava seu marido e seus filhos de 13 e 16 anos no árduo trabalho da lavoura, no cultivo do fumo. Por muito tempo essa rotina repetiu-se deixando-a desanimada e até fazendo-a esquecer-se de sorrir.
Certo dia, um primo de seu esposo veio pedir serviço para o sobrinho Rodrigo, que morava em outra cidade e não estava dando certo ficar por lá. José, mais do que depressa resolveu buscar Rodrigo e a família para que este lhe ajudasse no serviço da lavoura. A mulher prevendo que teria que pagar o empregado, não o queria. Foi aquele rebuliço. Muitas discussões aconteceram. No entanto, Lenice foi voto vencido, uma vez que José e seus filhos teriam que trabalhar menos na roça. Foi então que teve a idéia de consultar uma cartomante e tirar todas as dúvidas sobre o assunto.
A tal cartomante morava no município vizinho de Sobradinho e Lenice precisou ser hábil para convencer o marido de sua repentina saída, então falou-lhe que havia um encontro de professores naquela cidade e que ela fora a escolhida a representar a escola no referido encontro. José não ficou muito satisfeito, mas concordou com a saída da esposa.
Lenice não sabia com certeza onde ficava a casa da cartomante, apenas tinha a informação de que ficava um pouco afastado do centro da cidade e que precisaria atravessar um pequeno bosque com intenso matagal. Ao chegar próximo ao local avistou uma trilha por entre as árvores, a qual logo percebeu, era traiçoeira, cheia de pedras escorregadias. Cada passo exigia a sua concentração, enquanto penetrava por entre a mata densa. O silencio era fantasmagórico e ela apenas ouvia o som de seus passos e a sua respiração pesada.
Lenice teve a impressão de que estava sendo vigiada e girou-se rapidamente para ver se havia alguém ali, mas nada encontrou. Então teve uma vontade imensa de voltar correndo, porém seus pés pareciam ter vontade própria, determinados a continuar pelo caminho na busca por alguma resposta que sossegasse seu coração aflito.  
Algum tempo depois encontrou uma clareira e logo mais a frente avistou um sobrado pintado de branco, a beira de um lago límpido. Aproximou-se com cuidado e o canto de um pássaro rompeu o silencio. Próximo ao sobrado haviam pequenas flores que desciam de uma árvore preguiçosamente para o chão. Neste momento o perfume das flores começou a encher o ar, o que acabou por tranqüilizar um pouco Lenice, que ao chegar à varanda parou e respirou fundo antes de bater a porta.
Ao aproximar o punho para bater, a porta se abriu e uma mulher negra sorridente abraçou-a como se fossem velhas amigas. Lenice ficou sem fala.
A cartomante então a convidou para entrar e levou-a até uma sala, na qual havia duas cadeiras brancas de madeira e palha e uma mesa redonda, também de madeira e pintada da mesma cor. Por cima desta uma toalha de crochê feita a mão num tom de azul celeste. As paredes eram claras e aconchegantes, e Lenice sentiu-se bem naquele ambiente, passando assim a observar aquela sorridente negra vestida de jeans simples, blusa muito colorida com manchas amarelas, azuis e vermelhas.
__Então, jovem senhora em que posso ser útil? Perguntou com voz suave a cartomante.
__Quero respostas!
__Se queres ser feliz com seu marido não permita que Rodrigo venha viver perto de você e sua família. Vocês já se encontraram em vidas passadas e foram felizes, mas no presente momento muito sofrimento acontecerá para que vocês possam ser felizes mais uma vez.
Surpresa com a revelação feita pela cartomante, Lenice despede-se e segue afim de convencer seu esposo a mudar de opinião, no entanto ao chegar em casa percebe que este está irredutível, não deixando nem mesmo ela falar sobre o assunto.
Assim aconteceu. Em setembro do ano de 2003, Rodrigo chega de mudança, com sua esposa e seus cinco filhos, fixando residência na propriedade de José e Lenice.
A professora que muito trabalhava começou a enfrentar problemas com o marido, uma vez que este não a valorizava como ser humano. A vida dela era trabalhar na escola de manhã e de tarde até as dezessete horas, cumprindo às oito horas diárias conforme exigia sua profissão.
Quando terminava a jornada escolar, José e os filhos estavam descansados, a sua espera para irem trabalhar na lavoura. O cansaço foi tomando conta dela. A tristeza começou a abatê-la. A falta de compreensão e carinho por parte do esposo e dos filhos começou a ser notado por Rodrigo, que passara a sentir admiração e atração por Lenice. Dois anos se passaram e a história se repetia.
Rodrigo, por sua vez mandava recados por seu irmão para Lenice dizendo que a admirava muito. Mas ele á principio negou-se, pois ela era uma mulher austera e ele temia levar um xingão.
Em janeiro de 2005, Lenice chorava enquanto colhia fumo, pois estava cansada e doente e tinha que enfrentar o serviço. Rodrigo passa por perto dela e fala baixinho:
- Você não precisa passar por isso. Existe alguém que gosta de ti e quer lhe cuidar melhor.
Lenice, naquele momento sequer ligou para as palavras ouvidas. Mas, com o passar dos dias, começou a prestar atenção no cuidado que Rodrigo tinha com ela e na delicadeza com que lhe tratava.
O tempo foi passando e os dois tornaram-se bons amigos. Rodrigo sempre se oferecia para ajudá-la, pois Lenice sempre muito atarefada, cortava grama, lavava roupas, fazia pães no forno, plantava e limpava verduras, enquanto isso seu marido José descansava ou ia até o campo de futebol próximo ao salão da comunidade, onde se divertia com os amigos.
Já cansada do descaso do marido, Lenice resolveu dar uma chance a Rodrigo. Chamou-o para conversar. Nesse dia, eles trocaram um beijo. Os dois pareciam estar sonhando. Com muito medo, eles passaram a conversar mais. Porém, continuava trocando dia para colher fumo para que ninguém suspeitasse do amor que sentiam um pelo outro. Esse sentimento entre Rodrigo e Lenice aumentava a cada dia. Trabalhando juntos, já não conseguiam mais conter o desejo de se amarem. O amor deles foi descoberto. Os dois sofreram muitas ameaças. Não agüentando a “pressão” das famílias, Lenice resolve abandonar tudo e vai embora para outra cidade.
Rodrigo não se conforma e vai até lá, somente para enxergar a amada. Ela, sem saber que seu amado ia lhe ver, sofria muito a sua ausência. Para deixá-la mais triste ainda, não tinha sinal de celular onde ela morava e ela não tinha como saber notícias dele.
Um dia ao levar sua filha a um médico especialista em uma cidade vizinha e o telefone toca. Lenice quase desmaia. Era seu grande amor ligando. Conversaram um pouco e combinaram outro dia para se falarem por telefone.
Enquanto isso, Rodrigo não esquecia a amada e já não conseguia mais esconder seus sentimentos. Sua esposa Lori ficou muito furiosa e resolveu ter um caso com seu cunhado Ari. Ela saiu de casa e foi viver com o cunhado em outro lugar. Mas vivia mentindo para ele que seu ex-marido estava lhe querendo de volta. Essa fofoca revoltou muito ao Ari, que começou a brigar com o irmão, ameaçando-lhe de morte. Assim se passaram muitos meses. Lenice volta a morar em Ibarama e Rodrigo volta a ligar para ela. Ela também continuava apaixonada por ele. Por isso, aos poucos, convenceu o marido a se divorciar dela, para não fazer as coisas erradas.
Neste mesmo período, Lori envenenava ainda mais Ari com suas fofocas. Ari, que tinha sua amante Vera, não sabia mais o que fazer e em quem acreditar. Estava dividido entre o amor e o dinheiro de Vera e a atração que sentia por Lori. As duas batalhavam pra ficar com ele. Só que ambas eram desleais e enchiam a cabeça dele com conversas mentirosas, deixando-o cada vez mais com raiva do irmão, que nada lhe fazia.
Muitas fofocas, discussões e ameaças aconteceram por longos meses. No entanto, a situação de Lenice já estava decidida e a de Rodrigo também. Os dois estavam separados e agora sim poderiam se encontrar e viver o grande amor que estava sufocado em seus corações.
O reencontro de Lenice e Rodrigo acontece no dia dezoito de novembro, numa festa religiosa. Os dois estão muito felizes. Mas Lenice precisa partir, pois tem compromissos de trabalho e precisa pernoitar na Cidade. Rodrigo vai para sua humilde casa. Arruma um chimarrão e está pronto para fazer o jantar para ele e seu filho. De repente, eles são surpreendidos pelos gritos do irmão Ari, que lhe provoca até que uma terrível briga se inicia.
Depois de muito brigarem, Rodrigo consegue vencer seu irmão, mas, infelizmente, acaba matando-o. Lenice não estava ali para apoiar o amado, que se entrega ao desespero, bebendo muito e até mesmo tentando se suicidar. Foram dias de muita tristeza.
Todas as investigações foram realizadas e Rodrigo foi considerado inocente. Ele agiu em legítima defesa e sequer foi levado a júri popular.
Lenice volta e vai viver com seu amado, dando-lhe apoio e ajuda. Rodrigo, muitos dias sente-se abalado e triste pelo que fez, mas consegue superar, pois tem convicção de que não teve outra escolha: ou matava ou morria, uma vez que seu irmão Ari já estava destinado a matá-lo.
Atualmente, Vera vive com seu marido, sem felicidade e com poucos amigos, sentindo a falta do amante que morreu. Lori, já tentou viver com três homens, mas não consegue encontrar felicidade em seus relacionamentos.
Rodrigo e Lenice atualmente vivem juntos, são amigos e amam-se profundamente.

Um comentário:

  1. Gurias! Muito boa a releitura de vocês. Conseguiram tdar outra abordagem ao tema. Parabéns! Clarinha

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